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Hoje, enquanto revirava gavetas da tua casa senti-me tão próxima de ti! Reencontrei velhas fotografias, as tuas coisinhas tão bem guardadas e tão bem estimadas. Doeu lá entrar..estava tudo tão diferente!
Percebi que muitos anos depois, haviam coisas do avô por todo lado; guardas-te tudo tão bem como se ele um dia pudesse voltar.
Encontrei algo que me fez sorrir de ansiadade, mas que me fez chorar de saudade. Encontrei algo que te liga a ti e ao avô. Consigo sentir-vos aos dois, neste pedaço de papel amarelado e envelhecido pelos quase 40 anos que passaram..
Encontrei a mulher simples que eras, a mulher terna que guardo para sempre no meu coração.
Rebolia, 5 de Abril de 1971
Meu querido homem, muito estimo que esta minha carta te vá encontrar de perfeita e feliz saude, que eu ao faer desta, fico bem graças a Deus.
Manuel, hoje mesmo recebi a tua carta, nela vi que ficavas de saude, foi o que eu mais estimei de saber, mandavas-me então dizer que tives-te uma boa viagem, sempre bem disposto. Foi bom, que eu pensava que tu ias ter uma viagem triste, querido,mandavas-me então dizer que ficavas com uma magua no coração, pois isto é uma vida triste. Quanto mais vezes agente se despede um do outro, mais custa, mas se Deus quiser tudo se passa temos de meter o coração ao largo. Manuel mandavas-me então dizer que ias mudar pela manha, peço-te que me escrevas logo para eu ficar a saber, que eu não sei o que ade ser de ti se tu não passas com tanta neve e com tanto frio que ai faz. Olha o nosso tempo aqui tambem virou a chuver, parece que estamos agora na força do Inverno.
Agora com isto termino.
Recebe muitos cumprimentos de todos,e muitos beijos dos nossos filhos, e de mim recebe muitos beijos e abraços cheios de saudades.
Desta tua mulher que se assina por Maria do Carmo Soares
Adeus querido, até à tua resposta, mais uma vez adeus querido.